* Colocação pronominal

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COLOCAÇÃO DE PRONOMES

 

A colocação ou topologia pronominal trata da correta posição dos pronomes oblíquos átonos (me, te, se, nos, vos, o, a, os, as, lhe, lhes ) e do pronome demonstrativo o em relação ao verbo. O que a determina é tanto a eufonia (fator fonético) quanto a disposição das palavras na frase (fator sintático).

três possibilidades de colocação dos pronomes: antes do verbo (próclise), no meio do verbo (mesóclise) e depois do verbo (ênclise).


 PRÓCLISE

 

Colocação dominante no português do Brasil, a próclise muitas vezes é determinada pela presença de palavras, chamadas atrativas, que requerem a colocação do pronome átono antes do verbo e junto de si. Outras vezes, é o tipo de oração que a condiciona.

 

Casos em que se usa a próclise:

 

1. Depois de palavras de sentido negativo ( jamais, nada, não, nem, ninguém, nunca, tampouco):

Os problemas nunca se resolviam a contento.

Não o cumprimentou, tampouco o convidou para entrar. Ninguém lhe chamou de indigente.

 

2. Depois de vocábulos interrogativos ( como, onde, por que, qual, quando, quanto, que, quem):

Quem se habilita a redigir o relatório?

Quanto se gastará no projeto?

Quando nos será entregue o certificado?

 

3. Depois de pronomes relativos (que, quem, o qual, a qual, onde, quanto, quanta, como):

Trabalho para empregador que me respeite.

No plenário da Câmara, onde se realizam as sessões, é obrigatório o uso de terno e gravata.

A emenda à qual se refere a Presidência foi vetada. Tudo quanto nos prometeram foi cumprido.

 

4. Depois de pronomes indefinidos (alguém, pouco, tudo, vários, etc.) e demonstrativos (aquele, essa, isto, etc.):

Alguém se contradisse no depoimento.

As emendas, estas se revelaram inadequadas. Aquilo nos dizia respeito.

 

5. Depois de conjunções subordinativas (conforme, como, embora, quando, que, se, etc.):

Embora se quisessem bem, não viviam juntos. Se te ameaçarem, procura a polícia.

Espero que se saiam bem no julgamento.

 

Observação: Ainda que a conjunção que esteja elíptica, faz-se a próclise: Espero se saiam bem no julgamento.

 

6. Depois dos advérbios em geral (agora, apenas, aqui, ali, hoje, amanhã, já, só, sempre, também, talvez, os terminados em -mente, etc.), não isolados por vírgula:

Sempre os recebemos com cortesia.

Antigamente se vivia com segurança nas cidades grandes. Aqui se votam leis decisivas para o destino da população.

 

Observação: Usa-se a ênclise quando entre o advérbio e o verbo pausa marcada por vírgula: Antigamente, vivia- se com segurança nas cidades grandes; Aqui, votam-se leis decisivas para o destino da população.


7. Depois do numeral ambos:

Ambos se conheceram nessa ocasião.

 

8. Diante de verbos proparoxítonos:

Nós o censurávamos pelo comportamento impróprio.

 

9. Quando o verbo está no gerúndio e antecedido da preposição em:

Em se tratando de safra, a de 2002 foi melhor que a de 2003.

Em o encontrando, avise-lhe que a pauta da sessão já está pronta.

 

10. Diante de infinitivo pessoal flexionado regido de preposição:

Por se estimarem, preferiram evitar a disputa.

Ao se verem flagradas, as mulheres cobriram o rosto.

 

11. Nas orações subordinadas substantivas:

Confesso que o problema me incomodava sobremaneira.

 

12. Nas orações exclamativas:

Como nos irritamos com discussões fúteis!

 

13. Nas orações optativas (orações que exprimem desejo):

Bons ventos o levem!

Deus o abençoe nesta votação, nobre Deputado!

 

Observação: Quando o sujeito da oração optativa vem posposto ao verbo, dá-se a ênclise: Levem-no bons ventos!; Abençoe-o Deus nesta votação, nobre Deputado!

 

MESÓCLISE

 

A mesóclise, colocação do pronome átono no meio do verbo, é pouco usada no Brasil. Restringe-se, praticamente, à linguagem escrita formal e ocorre unicamente com as formas verbais do futuro do presente e do futuro do pretérito do indicativo, mesmo assim se não houver palavra atrativa que exija a próclise:


Iniciar-se-ão os trabalhos da CPI na próxima semana. Dir-lhe-ia umas verdades se o encontrasse.

 

Observações

 

O futuro do presente e o futuro do pretérito do indicativo não aceitam a ênclise. São incorretas frases como: * Iniciarão-se os trabalhos na próxima semana; * Diria-lhe umas verdades se o encontrasse.

 

1. Nas frases com sujeito expresso anteposto a verbo no futuro do presente ou do pretérito, pode usar-se tanto a mesóclise quanto a próclise (esta é mais usual): A adversidade o fortalecerá ou A adversidade fortalecê-lo. No entanto, se houver palavra atrativa, a próclise é obrigatória: A adversidade não o fortalecerá.

 

    ÊNCLISE

 

Ênclise é a colocação do pronome após o verbo. Nunca ocorre com o futuro do subjuntivo,39 nem com o futuro do presente e do pretérito do indicativo, como visto, nem com o particípio, conforme se verá. É usada nos seguintes casos:

 

1. No início de frase (jamais se inicia frase com pronome oblíquo átono na linguagem escrita formal):

Dirijo- me a V.Exa. para um esclarecimento. (não: * Me dirijo)

Vendem-se terrenos a preços acessíveis. (não: * Se vendem)

 

2. Após pausa marcada por vírgula, ponto-e-vírgula ou dois- pontos:

Em tempos de radicalização, compete-nos negociar sempre.

Os dados eram imprecisos; fazia- se necessária uma reavaliação.

 

39 Diga-se: Quando nós os fizermos, e não: *fizermo- los; Se eles o virem , e não: * virem-no; Quando os congressistas se reunirem , e não: * reunirem-se.

 

3. Não é mais possível continuar como está: necessita- se de mudanças urgentes na economia.

 

4. Preferencialmente, nas orações coordenadas, introduzidas ou não por conjunção:

Ainda não fiz nenhum comentário sobre a matéria, mas faço-o a partir de agora.

O orador considerou exemplar a atitude do operário e incluiu-o na lista dos homenageados.

 

Grafia de verbos e pronomes na ênclise

 

Verbos terminados por r, s ou z perdem essas letras finais e os pronomes o, a, os, as passam a lo, la, los, las :

realizar + o = realizá-lo ; fiz + a = fi-la

demos + os = demo-los ; reténs + o = retém-lo

 

Observação: Os pronomes nos e vos também perdem o s quando a eles se juntam os oblíquos o, a, os, as: nos + as = no-las; vos + os = vo-los .

 

Verbos terminados em som nasal (final -m ou vogal com til) mantêm a grafia, enquanto os pronomes o, a, os, as são acrescentados da letra n:

deram + o = deram-no ; mantém + a = mantém-na põe + os = põe-nos ; dão + as = dão-nas

 

Por motivo de eufonia, elimina-se o s final dos verbos na 1ª pessoa do plural seguidos do pronome nos:

subscrevemos + nos = subscrevemo-nos conservemos + nos = conservemo-nos

 

Nos demais casos, apenas se agrega o pronome oblíquo átono ao verbo, não se fazendo nenhuma modificação:

demos + lhe = demos-lhe ; apraz + nos = apraz-nos manda + o = manda-o ; continue + a = continue-a


PRÓCLISE OU ÊNCLISE : COLOCAÇÃO FACULTATIVA

 

São corretas a próclise e a ênclise nos seguintes casos:

 

1. Quando o verbo é antecedido de substantivo ou de expressão que tenha um substantivo como núcleo:

A notícia nos causou profunda indignação. A notícia causou-nos profunda indignação.

Os deputados recém-empossados se felicitaram no plenário. Os deputados recém-empossados felicitaram- se no plenário.

 

2. Com o infinitivo impessoal antecedido de palavra atrativa ou de preposição:

Tudo fez para não nos desagradar. Tudo fez para não desagradar-nos.

Tive receio de te magoar. Tive receio de magoar-te.

 

Observação: Neste último caso, se a preposição for a ou por e o pronome for o(s) ou a(s), deve-se usar a ênclise: Ficamos a esperá-la; Tudo fez por consegui-lo.

 

3. Quando o verbo é antecedido de pronome pessoal do caso reto (eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas ):

Eu a auxiliei com as estatísticas. Eu auxiliei-a com as estatísticas.

Ele se dirigiu imediatamente à Presidência. Ele dirigiu-se imediatamente à Presidência.

 

Observação: Com verbos monossilábicos, a eufonia ordena que se use a próclise. Cp.: Eu a vi ontem / * Eu vi-a ontem.

 

COLOCAÇÃO PRONOMINAL NAS LOCUÇÕES VERBAIS

 

Há locução verbal quando dois (ou mais) verbos formam uma unidade sintática e semântica tal que um não pode ser usado sem o outro. O último verbo da locução, chamado principal , apresenta-se na forma de infinitivo impessoal, gerúndio ou particípio; o anterior, ou anteriores, é chamado auxiliar. Exemplos:


 

Podemos iniciar a sessão agora?

A Câmara está debatendo a questão dos transgênicos.

havíamos encerrado a sessão quando o apitaço começou.

 

Regras para colocação dos pronomes oblíquos átonos nas locuções verbais:

 

Verbo principal no infinitivo ou no gerúndio

 

Se não houver palavra atrativa, coloca-se o pronome depois do verbo auxiliar ou depois do verbo principal:

Podemos-lhe enviar um ofício. Podemos enviar-lhe um ofício.

Estava-se discutindo o parecer. Estava discutindo-se o parecer.

 

Observação: Quando o verbo auxiliar está no futuro do presente ou no futuro do pretérito, deve-se usar a mesóclise com ele (jamais a ênclise), ou então a ênclise com o verbo principal: Estar-se-ia discutindo o parecer ou Estaria discutindo- se o parecer (não:

* Estaria-se).

 

Se a locução vier precedida de palavra atrativa, substantivo ou pronome pessoal do caso reto, coloca-se o pronome antes do verbo auxiliar ou depois do verbo principal:

Não lhe podemos enviar um ofício. Um assessor lhe pode enviar um ofício. Nós lhe podemos enviar um ofício.

Não podemos enviar-lhe um ofício. Um assessor pode enviar-lhe um ofício. Nós podemos enviar-lhe um ofício.

 

Observação: Tratando-se de infinitivo impessoal regido pela preposição a ou por, os pronomes o(s) e a(s) devem ser usados enclíticos: Começo a compreendê-la; Tudo fez por consegui-lo.

 

   Verbo principal no particípio

                 

Com o particípio jamais se usa a ênclise. Assim:


a) Se não houver palavra atrativa, coloca-se o pronome depois do verbo auxiliar:

Haviam-me informado o horário da sessão.

 

b) Se a locução vier precedida de palavra atrativa, substantivo ou pronome pessoal do caso reto, coloca-se o pronome antes do verbo auxiliar:

Não me haviam informado o horário da sessão.

Um assessor me havia informado o horário da sessão. Ele me havia informado o horário da sessão.

 

Observações

 

Evitem-se, na redação oficial, construções próprias da linguagem oral, ou escrita informal, como: Haviam me informado o horário da sessão; Não podemos lhe enviar um ofício (pronomes soltos no meio da locução); Não podemos-lhe enviar um ofício (ênclise com o auxiliar quando há palavra atrativa).

 

Como já se disse, o particípio não admite a ênclise. Estão erradas frases como: * Suas atitudes têm surpreendido-nos; * Ela teria ajudado-o a redigir o texto. Correção: Suas atitudes têm-nos (ou nos têm) surpreendido; Ela o teria (ou tê-lo-ia) ajudado a redigir o texto.

 

REPETIÇÃO E OMISSÃO DE PRONOMES

 

Tratando-se de verbos coordenados, são possíveis as seguintes construções com os pronomes oblíquos átonos:

Os atletas dedicam-se, rivalizam-se e superam-se a cada competição. (ênclise: repetição obrigatória dos pronomes)

Os atletas se dedicam, rivalizam e superam a cada competição. (próclise: desnecessário repetição dos pronomes)

Os atletas se dedicam, se rivalizam e se superam a cada competição. (próclise: repetição dos pronomes como recurso de ênfase ou clareza)

 

* Manual de Redação da Câmara dos Deputados (2004)


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