Questões FGV – Interpretação de textos: a importância do título

Texto – A eficácia das palavras certas

 

Havia um cego sentado numa calçada em Paris. A seus pés, um boné e um cartaz em madeira escrito com giz branco gritava: “Por favor, ajude-me. Sou cego”. Um publicitário da área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu umas poucas moedas no boné. Sem pedir licença, pegou o cartaz e com o giz escreveu outro conceito. Colocou o pedaço de madeira aos pés do cego e foi embora.

Ao cair da tarde, o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Seu boné, agora, estava cheio de notas e moedas. O cego reconheceu as pegadas do publicitário e perguntou se havia sido ele quem reescrevera o cartaz, sobretudo querendo saber o que ele havia escrito.

O publicitário respondeu: “Nada que não esteja de acordo com o conceito original, mas com outras palavras”. E, sorrindo, continuou o seu caminho. O cego nunca soube o que estava escrito, mas seu novo cartaz dizia: “Hoje é primavera em Paris e eu não posso vê-la”. (Produção de Texto, Maria Luíza M. Abaurre e Maria Bernadete M. Abaurre)

 

1. (Analista/ IBGE) O título dado ao texto:

 

(A) resume a história narrada no corpo do texto;

(B) afirma algo que é contrariado pela narrativa;

(C) indica um princípio que é demonstrado no texto;

(D) mostra um pensamento independente do texto;

(E) denuncia um princípio negativo de convencimento.

 

Texto: O que causa o pesadelo?

 

As razões pelas quais os pesadelos acontecem ainda não são claras, mas há algumas possibilidades. Uma delas é que, assim como os sonhos, eles podem refletir situações que não conseguimos lidar muito bem diariamente. Estresse, ansiedade, rotina de sono irregular, uso de medicamentos antidepressivos e para hipertensão, tudo isso pode aumentar o risco de ter pesadelos.

Pessoas que sofreram algum tipo de trauma recente, como acidentes, assalto, estupro, morte de uma pessoa querida, tendem a ter sonhos ruins cuja temática esteja, de alguma maneira, ligada ao estresse a que foram submetidos. É como se o cérebro avisasse que elas precisam passar por todo o trauma de novo até superar seu medo.

Problemas físicos ou desconfortos durante o sono também podem causar pesadelos. Quem sofre de apneia, por exemplo, pode incorporar a sensação de falta de ar no sonho. Sabe aquela velha frase que dizia “não dorme de barriga cheia que você terá pesadelo”? Pois bem, se alguma coisa não caiu bem ou se o alimento está dando muito trabalho para ser digerido, é bem provável que essa sensação seja transportada para os sonhos.

Isso acontece porque durante o sono, mesmo dormindo bem profundamente, todos os nossos sentidos ainda estão "funcionando". Com isso, qualquer estímulo externo é percebido e adicionado ao sonho ou pesadelo.

(BAIO. Cíntia. UOL Notícias. Ciência e Saúde. 22/03/2016.)

 

2. (Professor Intérprete de Língua Brasileira de Sinais / SEEPE) Com relação à pergunta do título – O que causa pesadelo? – o texto

 

(A) não a responde de forma objetiva, por falta de investigações sérias.

(B) não a responde de forma definitiva, mas apresenta sugestões.

(C) não a responde de forma clara, pois as pesquisas são insuficientes.

(D) não a responde de forma precisa, pois o autor é inexperiente.

(E) não a responde de forma conclusiva, abandonando-a na progressão do texto.

 

Texto: Um país em berço de sangue

 

       O maior país da América Latina, com a maior população católica do mundo, não nasceu de forma tranquila. Neste livro, com o realismo dos documentos originais, vemos claramente a brutalidade do extermínio dos índios na costa brasileira, berço de sangue cujo marco determinante é a fundação da cidade do Rio de Janeiro.

       O Brasil real começou a ser construído por homens como o degredado João Ramalho, que raspava os pelos do corpo para se mesclar aos índios e construiu um exército de mestiços caçadores de escravos mais poderoso que o da própria Coroa; personagens improváveis como o jesuíta Manoel da Nóbrega, padre gago incumbido de catequizar um povo de língua indecifrável, esteio da erradicação dos “hereges” antropófagos; líderes implacáveis como Aimberê, ex-escravo que tomou a frente da resistência e Cunhambebe, cacique “imortal”, que dizia poder devorar carne humana porque era “um jaguar”.

       Incluindo protestantes franceses, que se aliaram aos índios para escapar dos portugueses e da Inquisição, além de mamelucos, os primeiros brasileiros verdadeiramente ligados à terra, que falavam tupi tanto quanto o português e partiram do planalto de Piratininga para caçar índios e estenderam a colônia sertão adentro, surge um povo que desde a origem nada tem da autoimagem do “brasileiro cordial”.

(Texto da orelha do livro A conquista do Brasil, de Thales Guaracy, Planeta, Rio de Janeiro, 2015)

 

3. (Oficial de Chancelaria /Ministério das Relações Exteriores) O título dado ao texto  – Um país em berço de sangue – alude:

 

  a) à presença da violência como marca de nossa história através dos tempos;

  b) ao temperamento belicoso de todos os povos que formaram este país;

  c) à brutalidade do extermínio de indígenas na costa brasileira;

  d) às guerras internas e externas na formação do Brasil;

  e) ao início cruel da fundação do Rio de Janeiro, com a escravização dos índios.

 

Texto: Como surgiu a linguagem humana?

Galileu, junho 2008

 

Embora não exista uma resposta fechada para a pergunta, há alguns experimentos e teorias que sugerem que o início do processo se deu entre os antepassados do Homo Sapiens, há 1,5 milhão de anos. A hipótese mais considerada pelos especialistas para o início da linguagem é a antropológica. Segundo ela, o processo resultou da necessidade do homem, além de se comunicar socialmente, garantir sua sobrevivência. (adaptado)

 

4. (Assessor Jurídico /Câmara Municipal de Recife) No texto, a pergunta do título:

 

(A) é ignorada no desenvolvimento do texto;

(B) é respondida de forma vaga e imprecisa;

(C) não é respondida satisfatoriamente no texto;

(D) é claramente respondida, ainda que sob um só ponto de vista;

(E) é respondida, mas de forma não técnica.


 

Texto: LAR DO DESPERDÍCIO

 

       De acordo com as Nações Unidas, crianças nascidas no mundo desenvolvido consomem de 30 a 50 vezes mais água que as dos países pobres. Mas as camadas mais ricas da população brasileira têm índices de desperdício semelhantes, associados a hábitos como longos banhos ou lavagem de quintais, calçadas e carros com mangueiras.

       O banheiro é onde há mais desperdício. A simples descarga de um vaso sanitário pode gastar até 30 litros de água, dependendo da tecnologia adotada. Uma das mais econômicas consiste numa caixa d'água com capacidade para apenas seis litros, acoplada ao vaso sanitário. Sua vantagem é tanta que a prefeitura da Cidade do México lançou um programa de conservação hídrica que substituiu 350 mil vasos por modelos mais econômicos. As substituições reduziram de tal forma o consumo que seria possível abastecer 250 mil pessoas a mais. No entanto, muitas casas no Brasil têm descargas embutidas na parede, que costuma ter um altíssimo nível de consumo. O ideal é substituí-las por outros modelos.

       O banho é outro problema. Quem opta por uma ducha gasta até 3 vezes mais do que quem usa um chuveiro convencional. São gastos, em média, 30 litros a cada cinco minutos de banho. O consumidor – doméstico, industrial ou agrícola – não é o único esbanjador. De acordo com a Agência Nacional de Águas, cerca de 40% da água captada e tratada para distribuição se perde no caminho até as torneiras, devido à falta de manutenção das redes, à falta de gestão adequada do recurso e ao roubo.

       Esse desperdício não é uma exclusividade nacional. Perdas acima de 30% são registradas em inúmeros países. Há estimativas de que as perdas registradas na Cidade do México poderiam abastecer a cidade de Roma tranquilamente. (Ambientebrasil, outubro de 2014)

 

5. (Técnico/TJ/RJ) O título dado ao texto – Lar do desperdício – se justifica pelo fato de:

 

(A) o Brasil ser um país de maior desperdício de água;

(B) as habitações domésticas não terem aparelhagens modernas;

(C) os lares mostrarem situações variadas de desperdício;

(D) as perdas de água ocorrerem em todo o planeta, nosso lar;

(E) todas as classes sociais concorrerem para o desperdício.

 

Texto: QUANTO FALTA PARA O DESASTRE?

       Verão de 2025. As filas para pegar água se espalham por vários bairros. Famílias carregam baldes e aguardam a chegada dos caminhões-pipa. Nos canos e nas torneiras, nem uma gota. O rodízio no abastecimento força lugares com grandes aglomerações, como shopping centers e faculdades, a fechar. As chuvas abundantes da estação não vieram, as obras em andamento tardarão a ter efeito e o desperdício continuou alto. Por isso, São Paulo e várias cidades vizinhas, que formam a maior região metropolitana do país, entram na mais grave crise de falta d’água da história. (Época, 16/06/2014 / Adaptado)

 

6. (Técnico/TJ/RJ) O título dado ao texto tem a forma de uma pergunta – Quanto falta para o desastre? – que:

 

(A) exemplifica uma pergunta retórica, já que não há resposta possível;

(B) é claramente respondida no texto por meio de uma previsão;

(C) não apresenta resposta no corpo do texto;

(D) funciona como um conselho para as autoridades;

(E) é respondida por meio de uma informação do enunciador.

 

Gabarito


1. C

 

Comentário:

 

a) Alternativa errada – Segundo o Dicionário Michaellis, “resumo” é uma “condensação em poucas palavras do que foi dito ou escrito mais extensamente”; tem como objetivo apresentar, de forma sintética, as informações mais relevantes do texto. Se analisarmos o título deste texto – A eficácia das palavras certas –, perceberemos que ele é muito vago. Em outras palavras, ele nos dará ideia do poder persuasivo das palavras certas, não em sentido específico, mas de modo muito abrangente. Para que o título fosse um resumo, teria que trazer a informação principal: um publicitário modificou um anúncio de um cego que pedia esmolas em Paris; com essa modificação, ocorreu um aumento de doações de dinheiro – o que comprova a importância do uso das palavras adequadas na publicidade.

b) Alternativa errada – A afirmação contida no título não é contrariada pela narrativa; ao contrário, é confirmada: as pessoas se sensibilizaram com a linguagem poética do publicitário.

c) Alternativa certa – De acordo com o texto, os dois anúncios possuem o mesmo objetivo, pois ambos pretendiam persuadir as pessoas que caminhavam pela rua a fazerem doação de dinheiro ao cego que pedia esmola. No entanto, o resultado dos anúncios foi diferente; o primeiro, com uma linguagem extremamente apelativa, quase agressiva, apelando à razão dos que transitavam por aquela rua, não produziu o efeito desejado; já o publicitário, com uma linguagem poética, apelando à emoção, obteve sucesso. Com isso, o autor indicou um princípio e o demonstrou: na publicidade, o apelo emocional é a maneira mais eficaz de persuadir o consumidor.

e) Alternativa errada – O título não apresenta nenhuma denúncia.

 

2. B

 

Comentário:

 

a) Alternativa errada – Ao afirmar que “as razões pelas quais os pesadelos acontecem ainda não são claras, mas há algumas possibilidades”, o texto responde à pergunta do título com objetividade. Outro erro desta alternativa: em nenhum momento do texto se afirma que faltam investigações sérias.

b) Alternativa certa – O texto não a responde de forma definitiva, visto que “as razões pelas quais os pesadelos acontecem ainda não são claras”, mas apresenta sugestões (“há algumas possibilidades”). Vejamos algumas: “Estresse, ansiedade, rotina de sono irregular, uso de medicamentos antidepressivos e para hipertensão, tudo isso pode aumentar o risco de ter pesadelos.” / “Pessoas que sofreram algum tipo de trauma recente, como acidentes, assalto, estupro, morte de uma pessoa querida, tendem a ter sonhos ruins cuja temática esteja, de alguma maneira, ligada ao estresse a que foram submetidos.” / “Problemas físicos ou desconfortos durante o sono também podem causar pesadelos.”.

c) Alternativa errada – O texto responde-a de forma clara. Além disso, não há referência a pesquisas.

d) Alternativa errada – O texto não a responde de forma precisa não porque o autor é inexperiente, mas porque “as razões pelas quais os pesadelos acontecem ainda não são claras”.

e) Alternativa errada – Diferentemente do que se afirma nesta alternativa, o texto responde-a na progressão do texto.

 

3. C

 

Comentário:

 

a) Alternativa errada – O texto refere-se à presença da violência no início da colonização do Brasil, e não através dos tempos.

b) Alternativa errada – Nem todos os povos que formaram este país possuem temperamento belicoso; os índios não são apresentados com esse comportamento: eles apenas se defenderam.

c) Alternativa certa – O título dado ao texto – Um país em berço de sangue – alude à brutalidade do extermínio de indígenas na costa brasileira. Isso pode ser comprovado ao longo do texto: “vemos claramente a brutalidade do extermínio dos índios na costa brasileira, berço de sangue cujo marco determinante é a fundação da cidade do Rio de Janeiro”.

d) Alternativa errada – O texto faz somente referência às guerras internas na formação do Brasil.

e) Alternativa errada – Na época da fundação da cidade do Rio de Janeiro, os índios não foram escravizados; eles foram mortos (“vemos claramente a brutalidade do extermínio dos índios na costa brasileira, berço de sangue cujo marco determinante é a fundação da cidade do Rio de Janeiro”).

 

4. D

 

Comentário:

a) Alternativa errada – A pergunta é respondida, portanto não é ignorada no desenvolvimento do texto.

b) / c) Alternativas erradas – A pergunta é respondida de forma clara e precisa.

d) Alternativa certa – A pergunta foi respondida sob um só ponto de vista – o antropológico (“A hipótese mais considerada pelos especialistas para o início da linguagem é a antropológica.”).

e) Alternativa errada – O autor respondeu de forma técnica, sim, pois sua argumentação é apoiada em evidências científicas.

 

5. C

 

Comentário:

 

a) Alternativa errada – O texto diz que “as camadas mais ricas da população brasileira têm índices de desperdício semelhantes” aos das camadas ricas dos países desenvolvidos; que o “desperdício não é uma exclusividade nacional”; que “Perdas acima de 30% são registradas em inúmeros países.”. Com isso, podemos inferir que o Brasil desperdiça muita água, mas não que é o país de maior desperdício de água.

b) Alternativa errada – Não é o conceito de modernidade em relação ao tipo de aparelhagem usado nas habitações do Brasil que está em discussão. Aliás, as duchas são aparelhos mais modernos do que os chuveiros convencionais, portanto o país usa aparelhagens modernas em suas habitações. Na verdade, o que está em discussão, como fator de desperdício, é o tipo de aparelhos que o brasileiro usa: a descarga de um vaso sanitário, que “pode gastar até 30 litros de água, dependendo da tecnologia adotada”, e a ducha, que “gasta até 3 vezes mais do que quem usa um chuveiro convencional”.

c) Alternativa correta – O título dado ao texto – Lar do desperdício – se justifica pelo fato de os lares mostrarem situações variadas de desperdício: longos banhos; lavagem de quintais, calçadas e carros com mangueiras; descargas de um vaso sanitário inadequadas; uso de duchas.

d) Alternativa errada – O texto diz que as perdas ocorrem em inúmeros países, não em todos.

e) Alternativa errada – O texto cita explicitamente somente as classes mais abastadas, portanto não podemos inferir que todas as classes sociais concorrem para o desperdício.

 

6. B

 

Comentário

 

a) Alternativa errada – “Pergunta Retórica” é aquela que se formula não com o objetivo de receber uma resposta, mas apenas para provocar um efeito no destinatário do discurso, ajudando na argumentação. O objetivo da pergunta retórica e fazer o ouvinte concordar, discordar ou pensar sobre algo. Aqui, não se trata de pergunta retórica, pois o enunciador respondeu à pergunta.

b) Alternativa correta – A pergunta é claramente respondida no texto por meio de uma previsão pessimista para o ano de 2025. Em outras palavras, é como se o desastre já tivesse chegado, uma vez que o texto mostra como a rotina de milhares de pessoas foi afetada pela crise hídrica.

c) Alternativa errada – Já vimos na alternativa A que a pergunta é respondida no corpo do texto.

d) Alternativa errada – A pergunta funciona não como um conselho, mas como um alerta para as autoridades, para que elas tomem providências urgentes que impeçam a crise da água.

e) Alternativa errada – Trata-se de previsão, e não de informação.


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